sexta-feira, 17 de junho de 2011

Saiba como agem os negociadores da polícia

Conhecer o perfil dos bandidos é parte fundamental da negociação

Adriana Caitano e Fernanda Nascimento
 
O caso das mulheres mantidas reféns em uma casa de Brasília na manhã desta terça-feira traz à memória cenas de situações semelhantes que terminaram em tragédia. Em 2008, a estudante Eloá Pimentel foi morta em São Paulo após cem horas de sequestro. O mesmo fim teve a professora Geisa Gonçalves, refém no ônibus 174, no Rio de Janeiro, em 2000.
O desfecho de uma situação como essa depende muito do perfil dos bandidos e do método de ação dos policiais. Em Brasília, apesar dos momentos de tensão, não houve mortes e os criminosos se entregaram após cerca de seis horas de negociação - que, além dos policiais, contou com apoio de familiares dos homens.

Procedimentos - Quando um sequestro é detectado, a Polícia Militar aciona um gabinete de crise. O primeiro passo, segundo o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro Paulo Storani, é isolar a área, o que foi feito em Brasília. Os moradores das casas vizinhas foram retirados do local assim que os policiais chegaram.

Após o isolamento, os agentes envolvidos no gerenciamento de crise – neste caso, foram oitenta – são divididos entre o grupo de negociadores, que conversam diretamente com os sequestradores para saber a motivação do crime; o de inteligência, que analisa o histórico dos criminosos; e o de ações táticas, preparado para as ações policiais. 

“Essa modalidade de roubo interrompido, em que não há exigências específicas, é a mais fácil e com probabilidade de terminar bem, pois não há motivação passional e eles não haviam planejado manter reféns. Só o fizeram porque a polícia chegou”, explica Paulo Storani.

Perfil - A psicóloga Júnia de Vilhena, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), que é especialista em violência, destaca que a análise do perfil dos sequestradores é essencial para o sucesso da operação. “É necessário saber a idade deles, se estão assustados ou agressivos e, principalmente, se estão drogados, pois isso faria com que eles perdessem qualquer elemento de racionalidade.”

Paulo Storani explica que o grupo de inteligência está preparado para buscar fatos sobre os envolvidos que possam influenciar na negociação. “É preciso observar a ficha criminal deles – extensa, no caso dos criminosos de Brasília. Se algum já cometeu um homicídio, poderá agir de forma brusca e violenta em algum momento”, diz. “A história também não deve ser prolongada demais para não dar a oportunidade de os criminosos quererem fama, o que acontece em muitos casos.” 

As exigências feitas pelos bandidos devem ser, na medido do possível, atendidas. Os sequestradores de Brasília pediram a garantia de que teriam a integridade física preservada. “Isso pode ser resolvido com a presença de uma autoridade, como o secretário de segurança, que vai reforçar a garantia”, sugere Júnia. Para Storani lembra que tudo deve ser feito com cautela: “A vida é o foco principal. Em primeiro lugar a dos inocentes, em segundo a dos policiais e em terceiro a dos sequestradores”.

Veja abaixo o desfecho deste e outros casos: 
 
 
Na última terça-feira, quatro mulheres foram mantidas reféns durante seis horas em uma residência. A ação dos dois bandidos começou com uma tentativa de assalto ao marido de uma das vítimas. Pedreiros que trabalhavam em uma obra no telhado de um imóvel próximo viram a cena e chamaram a polícia. Surpreendidos pela viatura, os bandidos entraram na casa e renderam as mulheres. A primeira refém a ser solta estava grávida e ficou pouco mais de uma hora em poder dos sequestradores. Os bandidos se entregaram à polícia e libertaram as outras mulheres depois de seis horas de negociações.


Em fevereiro de 2010, o vigilante Rodrigo Luciano Luz manteve a ex-mulher refém por 69 horas em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Após um discussão entre os dois, em fevereiro de 2010, a polícia foi acionada e recebida com tiros pelo vigia. Ele manteve reféns a mulher e os dois filhos, que foram liberados em seguida. Depois de quase três dias de negociações, Luz entregou a ex-mulher.


Durante cem horas o país acompanhou a história da adolescente Eloá Pimentel, mantida refém em seu apartamento pelo ex-namorado, Lindemberg Alves, em outubro de 2008. Inconformado com o fim do relacionamento, ele rendeu a menina, a amiga Nayara e outros dois colegas que estudavam em sua casa. Os meninos foram libertados logo em seguida e as garotas permaneceram reféns por quatro dias. O mais longo caso de cárcere privado no país terminou de maneira trágica. Motivada por um som que seria de um tiro, a polícia invadiu o apartamento, mas não a tempo de evitar que Lindemberg atirasse nas duas garotas. Eloá não resistiu e morreu no hospital.


O ambulante André Luiz Ribeiro manteve a ex-mulher e outras dezenas de passageiros em um ônibus durante dez horas. Em novembro de 2006, ele entrou no veículo na rodovia Presidente Dutra, perto de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, rendendo a ex com um revólver. O ônibus foi parado pela polícia e os reféns libertados aos poucos. O ambulante não pretendia ferir outros passageiros, mas agredia a mulher e a ameaçava. Depois de dez horas de negociações, o Bope invadiu o veículo e libertou a mulher.


No dia 12 de junho de 2000, o assaltante Sandro do Nascimento invadiu um ônibus da linha 174, que fazia o trajeto Gávea–Central. Durante quatro horas, ele ameaçou os passageiros e negociou com os policiais, em um episódio transmitido ao vivo pela TV. Sandro deixou o veículo com uma arma apontada para a cabeça da professora Geisa Gonçalves. Na saída, um soldado do Bope tentou balear o sequestrador, que reagiu matando a refém. O assaltante foi levado em um carro da Polícia Militar aparentemente sem ferimentos, mas chegou morto à delegacia, com indícios de estrangulamento. Os policias apontados como responsáveis pela morte do rapaz disseram que agiram em legítima defesa e foram absolvidos.

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