segunda-feira, 18 de abril de 2011

Policiais e bandidos- A banalização da má conduta exige reflexão



A banalização da má conduta exige reflexão. E atitude. Notícias de policiais gaúchos envolvidos em crimes, como assalto a banco e sequestro, são tristes. Tá, tudo a ser apurado. Mas digo como alguém que veste uma farda há mais de duas décadas: não há o que decepcione mais. Entristece e desmotiva os bons colegas.

Carlos Enaude, leitor da coluna, enviou carta ao Correio do Povo salientando a importância de se cortar na própria pele. Que a BM tome de fato providências duras e imediatas contra seus maus elementos. Mas aponta as falhas nos exames de seleção. Também devem ser apuradas. No Rio já é comum, aqui pode haver bandidos entrando, ou sujeitos inaptos à atividade? Número, quantidade de efetivo, não significa qualidade. Formar menos, ter menos gente nas ruas, mas mais preparados, inclusive moralmente, pode não dar tanto fruto político. Mas respeita mais o cidadão.

Há alguns anos, bagunçou-se de tal forma o plano de carreira dos PMs gaúchos, que o sujeito pode morrer na ativa, sendo ótimo soldado, do tipo que não aceita propina e prende um traficante por semana, ganhando apenas uma promoção. Ele pode sonhar ser coronel, se pagar uma faculdade é missão quase impossível? No último mês, teve que vibrar com um aumento de R$ 20 – R$ 20! – no soldo, que já sabe ser dos piores do país. Certo, corrupção vem da índole. Mas que se faz uma força para que ela aconteça, ah, se faz. Que tal um deputado, desses que se faz de gago ao falar da PEC 300 – que nivelaria decentemente o salário policial no país -, mas é bem articulado sobre Ficha Limpa e o próprio aumento, sustentar uma família com dois salários mínimos? Ah. Fácil ver o mundo de uma sala cheia de puxa-sacos e ar-condicionado. Tendo que escolher, paga luz e mora, ou come, tudo muda. Os filhos, como ficam? Pare e pense: sem demagogia, isto incentiva o quê?

A grande maioria dos PMs, mesmo assim, age corretamente e prende bandido todos os dias. Esta semana, um soldado me questionou como podia aparecer tanta prisão na minha ficha. Ainda mais por tráfico. E comentou que talvez os melhores salários, como as melhores recompensas, sejam pagos a quem mal sabe fechar uma algema. Hum. Todas as funções são importantes e o apoio é estrutura necessária até na guerra.

Mas quando se tem tanto recurso perdido em burocracias autofágicas e obsoletas, um policial, seja de que cargo ou função for, se não tiver nenhuma prisão ou apreensão em determinado tempo, estará sendo bem pago pelos nossos impostos? É para o quê que ele existe, mesmo? Nada justifica um policial desonesto. Mas nada justifica, também, um sistema que incentive isto. Se continuar assim, notícia triste: a tendência é piorar.

Oscar Bessi Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Teremos o maior prazer em publicar seus comentários, desde que não sejam ofensivos, racistas, xenófobos, etc. Os comentários devem ter relação com a postagem. Siga as regras, por favor.